terça-feira, 8 de julho de 2008

Garapa

A impressão que se tem é de que noventa porcento dos filmes brasileiros retratam de alguma forma a pobreza do sertão nordestino em suas mil e uma variantes. Acho que os roteiristas, diretores, atores, e produtores acreditam que o tema lhes confira uma aura de intelectuais engajados na luta contra a miséria. Ou talvez a razão seja simplesmente a de que essa temática ajude a captar patrocínios públicos. De qualquer forma, é uma baita falta de imaginação!

Pois é, o último filme a seguir a temática é o Garapa, do badalado diretor José Padilha. No documentário ele segue três famílias cearenses que passam fome e a alimentam suas crianças com garapa (uma mistura de água com açúcar). A situação dessas famílias é mesmo muito triste.

Mas essa situação não é tão freqüente quanto os proponentes do bolsa família nos querem fazer crer. Em mais um brilhante artigo o jornalista Ali Kamel desmonta a tese de que há dezenas de milhões de pessoas com insegurança alimentar no Brasil. O seu argumento se baseia em dois pontos principais que eu resumo abaixo.

O primeiro é que a forma como a pesquisa sobre insegurança alimentar é feita leva a conclusões equivocadas a respeito da fome. A metodologia de pesquisa usada no Brasil é a mesma da utilizada nos Estados Unidos. E lá a pesquisa concluiu que em 2006 haviam mais de 35 milhões de pessoas com insegurança alimentar. Quem já pôs os pés nos Estados Unidos pelo menos uma vez na vida sabe que esse número não reflete a realidade.

O segundo argumento se baseia na premissa que a única maneira de se medir a fome de forma objetiva é medindo a altura e peso, ou seja, calculando o índice de massa corporal. E os números mostram que entre 2002 e 2003 o índice de pessoas magras no Brasil se encontrava em 4%, abaixo dos 5% considerados aceitáveis pela OMS. É claro que esse número é uma média, mas mesmo olhando para outros estratos os números são parecidos. Em 2006 as pesquisas mostram que a situação só é mesmo mais grave entre as mulheres sem escolaridade (5.3%) e com mais de 6 filhos (6%).

Ora, se a fome no Brasil é um problema claramente localizado como mostram as pesquisas do IBGE, por que distribuir o bolsa família para 46 milhões de pessoas? E por que, à época da divulgação da pesquisa do IBGE no início de 2005, o presidente Lula se apressou em desqualificá-la (veja aqui)?

A resposta é simples: o bolsa família não é um simples programa de erradicação da fome, mas um programa populista que o governo petista visa tornar o mais amplo possível. Com milhões de brasileiros clientes do governo, não é de se admirar a resiliência da popularidade do presidente.
E filmes como Garapa caem como uma luva no discurso mistificador do nosso presidente. O que não dificulta em nada a liberação de verbas da Ancine, mais de R$ 1 milhão, Petrobras*, etc.

*O nome do filme era Fome.

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