terça-feira, 27 de maio de 2008

Contramão

“Long live the Unity of Latin America” – Hugo Chávez

O presidente Lula afirmou ontem no seu programa de rádio semanal que a América do Sul caminha para a criação de uma moeda e Banco Central únicos, o que, segundo ele, tornaria os países membros “mais fortes e mais soberanos” (veja aqui).

Será mesmo? Obviamente o presidente não explica de que forma nos tornaremos mais fortes e mais soberanos ao termos a mesma moeda que a Bolívia, o Paraguai, a Venezuela, e outros mais.

Uma união monetária nos moldes da União Européia tem custos e benefícios. O maior benefício é uma maior abertura entre os países membros devido aos menores custos de transação. Esse benefício se faz mais importante quanto maior for o comércio e o investimento entre os países membros. Para se ter um exemplo, Bélgica e Luxemburgo exportavam 57% do seu PIB para outros países da UE em 2000, enquanto a Alemanha exportava 15.9% (fonte: EU - Commission European Economy, statistical appendix, www.europa.eu.int).

E quanto ao Brasil? Em 2007 o Brasil exportou US$ 161 bilhões, dos quais apenas US$ 17 bilhões foram para o Mercosul e US$ 10 bilhões para a Comunidade Andina das Nações (fonte: Secretaria de Comércio Exterior). Como o nosso PIB gira em torno de US$ 1.4 trilhão, podemos facilmente perceber que a importância desses países para a nossa economia é muito baixa. Ou seja, o comércio com os outros países da América do Sul teria que se multiplicar muitas vezes para justificar uma união monetária com esses países.

Um outro fator para vários países que se juntaram ao Euro foi poder se beneficiar da reputação do banco central alemão como defensor de uma moeda forte e estável. No nosso caso alguém acredita seriamente que podemos ter um benefício semelhante com o banco centrais argentinos, bolivianos, venezuelanos, ou paraguaios?

E quanto às desvantagens? Bem, a mais importante é que perderíamos a nossa independência monetária. Isso quer dizer que não mais poderíamos definir as taxas de juros ou câmbio de acordo com as nossas necessidades e teríamos que acomodar as necessidades dos outros países. Esse custo pode ser mais ou menos importante de acordo com a semelhança entre os países. Países parecidos têm necessiades parecidas.

Vários critérios podem ser usados para determinar os custos da política monetária comum. Os custos tendem a ser menores quando os ciclos econômicos são sincronizados, quando os fatores de produção (trabalho por exemplo) são móveis, quando preços e salários são flexíveis, e quando a redistribuição de recursos fiscais é coordenada. No caso da América do Sul os custos serão bastante altos, pois as economias são bastante diferentes entre si, a força de trabalho não é nada flexível (é raro o caso de um brasileiro se mudando pra Venezuela ou vice-versa), salários são bastante rígidos em todos os países sul-americanos, e não há a menor integração fiscal (imagina a chiadeira dos argentinos se tiverem que mandar dinheiro pro Brasil porque estamos em recessão).

Resumindo, os custos da união monetária são altos e o benefício é baixo. Não faz o menor sentindo abrirmos mão da soberania sobre a moeda sem termos praticamente nenhum benefício em troca. Essa história de “mais fortes e mais soberanos” não passa de balela do governo petista e mais um passo na direção da integração com governos como o de Chávez, Morales e Kirchner, todos com inclinações anti-democráticas e anti-capitalistas.

Vamos acelerando na contramão. Histórias assim não acabam bem...

Um comentário:

ASerrano disse...

Se querem conversar sobre a America Latina, deveriam primeiro conversar sobre depor o Chavez, arrumar as contas da Argentina etc... essas conversas sao so para mudar o foco dos problemas atuais...