quarta-feira, 25 de junho de 2008

Nova panacéia

Já comentei em outro texto que o aluno das escolas públicas brasileiras não sabem contar, ler ou escrever. Mas como todos esperam por soluções instantâneas para problemas complexos, mais uma solução estúpida está sendo proposta. No Rio de Janeiro, uma lei que em breve será regulamentada obrigará as escolas estaduais a ensinar xadrez aos seus alunos (veja aqui).

De alguma forma o xadrez fará com que alunos medíocres melhorem nas outras disciplinas. Mas que tal investir nos professores de matemática e português? Que tal investir em laboratórios de ciências? Que tal aumentar os salários dos professores de física? Que tal reduzir o número de feriados e “enforcamentos”? Que tal reprovar os alunos que não aprendem?Ah não! Isso leva tempo, é caro e provavelmente impopular. Pode deixar que o xadrez resolve!

E por que não testar o xadrez em apenas algumas escolas por alguns anos e ver se o desempenho dos alunos realmente melhora? Mas não, a lei é feita sem nunhum tipo de estudo sério. No Rio de Janeiro, tudo é feito de maneira leviana. O pior é que ninguém vai lembrar de revogar a lei daqui a alguns anos quando o desempenho escolar continuar sendo pífio. Ficaremos com mais um elefante branco.

E se já não temos professores de matemática qualificados, imaginem professores de xadrez. Ou alguém acha que tem algum jogador de xadrez decente em Cambuci?

sábado, 21 de junho de 2008

Bolsa refugiado

Duvidar da honestidade e boas intenções do governo petista é mais do que bom senso, é obrigação. Conforme noticiado no jornal O Globo, a nova idéia do governo petista é a da “bolsa refugiado” (veja aqui).

O curioso é que durante os jogos Pan-americanos, o governo petista devolveu em tempo recorde ao regime cubano os pugilistas que pediram asilo político ao Brasil, tudo feito de maneira muito nebulosa (aqui). O detalhe é que a ditadura daquele país é reconhecidamente feroz contra os dissidentes políticos. Muito, mas muito mais cruel contra os dissidentes do que a ditadura brasileira jamais foi contra Dilma Roussef e José Dirceu, dois terroristas que assaltavam bancos e planejavam homicídios.

O que nos leva a questionar o novo “bolsa refugiado”. Caramba, como reconciliar a nova bolsa com a atitude da polícia federal durante os jogos Pan-americanos? É claro que o governo petista só pode ter duas escalas de valores, uma pra quem é partidário da revolução comunista e outra pros demais. Dessa forma, atrocidades cometidas por ditadores como Hugo Chávez e Fidel Castro são relevadas, uma vez que feitas em prol do “bem maior”.

A boa notícia é que, graças a Deus, ao menos um dos pugilistas que o Brasil infamemente mandou de volta à Cuba finalmente conseguiu fugir, dessa vez pra Alemanha (saiba mais aqui). Lá talvez ele não ganhe a “bolsa refugiado”, mas com certeza não será traído de maneira vergonhosa.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Desigualdade social

Uns dias atrás li a colula da Míriam Leitão sobre a desigualdade social na China (veja aqui) e resolvi comentar o assunto. O meu objetivo não é esgotar a questão, mas somente levantar alguns pontos nos quais as pessoas raramente pensam.

Para a maior parte das pessoas a desigualdade social é um dos principais problemas do século XXI. É comum, por exemplo, se tratar a desigualdade como um mal em si próprio. É o ideário esquerdista de que todos devem ser iguais. Nesse caso, um presidente de empresa ganhar muito mais do que um operário seria injusto não importando as qualificações de um e de outro.

Na verdade, pouco se pensa nas causas e conseqüências da desigualdade. O problema da desigualdade se dá quando as oportunidades são diferentes. Quando um tem acesso a educação e o outro não, então a distribuição da renda será essencialmente injusta, uma vez que não reflete a diferença de talento ou esforço. É por isso que a ênfase deve ser sempre nos direitos iguais. Direitos iguais significam acesso a oportunidades, senão iguais, ao menos semelhantes.

Nos Estados Unidos, por exemplo, as oportunidades são essencialmente semelhantes. Como mostram os economistas da Universidade de Chicago Gary Becker (vencedor do prêmio Nobel de economia) e Kevin Murphy (vencedor da medalha John Bates Clark), a desigualdade crescente nos Estados Unidos é reflexo dos crescentes retornos que a educação oferece (veja aqui). Assim, uma pessoa que tem diploma universitário ganha cada vez mais que uma pessoa que pára de estudar após completar o segundo grau. Como os economistas mostram, cada vez mais estudantes acabam optando por ir à universidade. Para o país o resultado não poderia ser melhor: o capital humano cresce, a força de trabalho se torna mais produtiva, e o país fica mais rico.

Já na China a desigualdade tem uma história diferente. O crescimento econômico estimulado pelo comércio internacional aumentou muito a desigualdade naquele país, mas também tirou milhões de pessoas da pobreza absoluta. Sem dúvida, o crescimento acelerado melhorou a vida dos chineses pobres. Mas ao contrário do caso americano, na China as oportunidades não são iguais. Lá a burocracia do partido comunista decide quem tem acesso as regiões desenvolvidas que propiciam uma vida melhor. Lá a burocracia estatal decide quem vai viver na pobreza do campo e quem vai ter oportunidades nas grandes cidades para onde o governo direciona os investimentos.

Portanto, a briga não deve ser contra a desigualdade na renda, mas sim contra a desigualdade de oportunidades. Todos sabem que os seres humanos têm diferentes aptidões: uns são mais competentes, outros mais trabalhadores, outros são simplesmente vagabundos. Quando a desigualdade reflete os diferentes talentos e contribuições de cada um, então ela é benefica. Por exemplo, quando o Kaká ganha milhões de dólares por ano nao há nada de injusto nisso: ele está entre os melhores jogadores do mundo. Todos têm oportunidade de mostrar o seu talento nos campos de futebol, mas apenas poucos têm a qualidade técnica do Kaká. Se alguém acha que o salário dele é alto demais, deve então se dedicar a ser jogador de futebol e auferir os lucros que tal posição proporciona. Mas só quem tentar vai saber da real dificuldade. Ficar na frente da televisão exigindo igualdade é fácil.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Estimulantes químicos de uso ilegal

Hoje vou comentar a matéria publicada no congressoemfoco.com pelo Osvaldo Martins Rizzo, engenheiro e ex-conselheiro do BNDES. Na sua coluna do dia 8 de junho ele resolve explicar a quebra do banco de investimentos americano Bear Sterns (veja aqui). O problema é que ele não entendeu patavinas do que aconteceu e ainda por cima usa aqueles velhos chavões cansados de quem tem raiva do mercado financeiro.

Vamos lá. Ele começa dizendo:

“Enroscado em uma teia de papéis de derivativos de crédito sem lastro, a instituição passou a perder a confiança dos investidores e, em menos de 72 horas, quebrou.”

Falso. A crise começou em agosto de 2007 e culminou com a venda do Bear Sterns para o JPMorgan em maio de 2008, portanto o banco não quebrou em menos de 72 horas. Quanto aos derivativos de crédito que causaram a queda do banco, os famosos asset-backed securities, como o próprio nome diz eram todos lastreados. Os títulos do Bear Sterns davam direito ao banco receber o pagamento das hipotecas à medida que fossem feitos. Se alguém atrasasse o pagamento a sua casa ía a leilão para cobrir o prejuízo. Ou seja, os imóveis garantiam o rendimento dos titulos (os títulos eram lastreados). O grande problema é que as pessoas começaram a calotar ao mesmo tempo em que os imóveis caíam de preço, ou seja, o banco teve grandes prejuízos com seus investimentos.

Depois:

Muitos aplicadores que, até às vésperas da bancarrota, possuíam cotas dos fundos mútuos administrados pelo banco, enxergando uma oportunidade de auferir lucros, as venderam e passaram a apostar contra o Bear Stearns acelerando a sua quebra.”

Erro primário. O autor confunde cotista de fundo mútuo com acionista. O cotista de um fundo mútuo dá o seu dinheiro para o Bear Sterns administrar. O acionista aposta que o banco vai ser lucrativo. São coisas totalmente diferentes.

Ele continua:

“Como chacais famintos, esses ex-parceiros decidiram que a caça estava ferida e mataram-na, temporariamente saciando sua sede de sangue.”

É aquela velha analogia: o capitalista é o lobo mau, o trabalhador o cordeiro indefeso, etc. Haja paciência...

O autor segue despejando ignorância e preconceito:

“Nesse imediatista ambiente de negócios movido pela especulação predatória, e também por vários estimulantes químicos de uso ilegal, não se valoriza a produção; o trabalho árduo e a perseverança em se alcançar metas gratificantes de prazos mais longos.”

Aqui o autor insinua que quem trabalha no mercado financeiro usa drogas (“estimulantes químicos de uso ilegal”), o que é mais um daqueles rótulos burros, preconceituosos e ultrapassados. Depois o autor insinua que o capitalismo no modelo americano não valoriza a produção, o trabalho árduo e a perseverança. Mas não são os EUA o país mais rico e desenvolvido do mundo? Como chegariam lá se não com perseverança e trabalho árduo? E como ser rico sem produção?

E olhem essa:

“Entorpecidos pelos efeitos alucinógenos causados pela insana ganância, os financistas estão esquecendo que terras, casas, prédios, máquinas, etc são os verdadeiros e únicos ativos. Os papéis (bônus; ações; títulos; etc) não são bens, mas apenas indicam quem é o proprietário deles num determinado momento histórico. O valor do título de propriedade como objeto é ínfimo perante o bem material correspondente.

Dããããã. Será que quando alguém compra R$ 10 milhões em ações da Petrobras acha realmente que está comprando um pedaço de papel? Ou que quem compra um apartamento se confunde e acha que na verdade está comprando apenas a escritura cheia de carimbos e assinaturas? Fala sério seu Osvaldo!

Espero que o Sr. Osvaldo não tenha usado “estimulantes químicos de uso ilegal” para escrever o artigo. Mas não sei não...

sábado, 7 de junho de 2008

Pérola rara

Nesse blog eu evito falar de futebol. Mas às vezes não dá, eu não resisto. Afinal de contas o futebol é um manancial de pérolas inequecíveis. Pois veja o que disse o jogador Magal do Figueirense após a derrota de 5 a 0 para o Flamengo na tarde desse sábado:

- Estávamos bem até o zero a zero.

Detalhe: o primeiro gol do Flamengo foi aos 2 minutos de jogo! O primeiro tempo terminou 4 a 0!

Só faltou o Magal dizer que a equipe fez um bom aquecimento antes de entrar em campo...

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Clube de futebol não é polícia

Após a confusão do último domingo no jogo entre Náutico e Botafogo, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) resolveu interditar o Estádio dos Aflitos. O Náutico pode ainda perder o mando de campo por 1 a 10 jogos, além de ter que pagar multa de R$10.000 a R$ 200.000 (veja aqui). O principal artigo em questão é o artigo 213: “Deixar de tomar providências capazes de prevenir e reprimir desordens em sua praça de desporto”.

O problema começou quando o jogador André Luis do Botafogo foi expulso e saiu de campo xingando e fazendo gestos obscenos. O jogador se dirigiu então ao banco de reservas, o que não é permitido pela regra. A polícia tentou levá-lo ao vestiário do Botafogo, mas a porta estava trancada. Após muita confusão, a polícia retirou o jogador do estádio pelo meio da torcida do Náutico.

Pois então. A lei é absurda. O primeiro problema é que ela é genérica demais. Praticamente qualquer coisa pode ser enquadrada no artigo 213. Se for levada ao pé da letra não poderemos mais xingar a mãe do juiz ou provocar a torcida adversária, pois isso “pode causar desordem”. O artigo dá um enorme poder discricionário ao STJD: poder de decidir o que é permitido ou não nos estádios. E qual é a legitimidade que o STJD tem pra decidir esse tipo de coisa?

Segundo lugar, o artigo assume que os clubes são responsáveis pelos seus torcedores. Pelo pouco que entendo de direito, a única pessoa responsável pelos atos de uma pessoa adulta é ela mesma. Tudo bem, pode caber a uma instituição fazer o possível para evitar fraudes, tumultos, crimes, etc. Mas para isso a instituição deve, no mínimo, ter poder de fiscalização ou policiamento. E isso os clubes não têm. Nem o Náutico, nem o Flamengo, nem o Manchester United, nem qualquer clube do mundo. Portanto não podem ser responsabilizados por atos de desordem dos seus torcedores.

Sobra o argumento de que punir o clube é uma maneira de punir o torcedor. Bem, esse argumento é muito fraco, pois pode-se estar punindo uma verdadeira multidão (além do próprio clube) por atos de pessoas isoladas, o que fere qualquer princípio de justiça.

Ora, o STJD está punindo o Náutico pela truculência da polícia militar, e má educação do jogador André Luis do Botafogo. O que poderia ter o Náutico feito? Treinado a polícia? Educado o jogador?

Situação parecida já viveram outros clubes. Só para citar um exemplo recente, o Flamengo foi punido ano passado porque um torcedor jogou uma lata de cerveja no campo. O indivíduo foi imediatamente preso pela polícia com a ajuda de outros torcedores. O que poderia o Flamengo ter feito? Revistado todas as pessoas que entram no Maracanã? Ter posto um policial ao lado de cada torcedor pra pará-los no exato momento em que fossem jogar algo no gramado?

Em 2014 a Copa do Mundo será no Brasil. Pelo mesmo princípio o STJD terá que punir a CBF por qualquer coisa que aconteça nos estádios. Quem viver verá.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Pesquisas com Células Tronco Embrionárias

Semana passada o Supremo autorizou a pesquisa com células-tronco embrionárias no Brasil (veja aqui). Abaixo reproduzo a opinião de um grande amigo sobre o tema.

1) O que a Ciência tem a ver com isso?

A Ciência -- entendida como ciência biologica -- municia o Direito com um marco zero, um momento a partir do qual uma coisa, ou um ser, ou uma pessoa, ou o que seja, tem um "pai" e uma "mãe". Há então ao menos três sujeitos envolvidos, e como se sabe, bastam dois para que haja litigio. A partir daí o que a Ciência faz é identificar processos e só. Ou seja, se não for por uma razão utilitarista, de que vale a Ciência definir categoricamente que a vida começa na concepção, na nidação, na formação do sistema nervoso ou mesmo no nascimento? Ambos os lados envovidos na questão dizem ter a Ciência consigo mas temo que -- nesse quesito -- a mesma não pode, não deve e nunca vai estar do lado de ninguém pois foge totalmente a seus fins.

2) O que a religião tem a ver com isso?

Entre pessoas contrárias a pesquisas com CTE, existem católicos, judeus, evangélicos e mesmo ateus ou agnósticos. Sei disso porque conheço ao menos dois individuos em cada um desses times. Enfim, a questão é "laica" e "opinável" como bem insistiu a mídia. O triste é constatar que o único setor da sociedade a encarar o assunto de forma realmente "religiosa" é a propria mídia. Pontificou que as tais pesquisas sao a nossa "salvação", e que "vá pro inferno" quem pensa diferente...

3) "Células inviaveis", "Não é vida humana" ou "Fins justificam meios"?

Todos os argumentos que vi pró-pesquisa com CTE se fundamentam em um dos 3 principios acima. O primeiro expirou cedo posto que ha células declaradas "inviáveis" que se mostraram viáveis depois. O segundo é valido mas traz como corolário a necessidade de se postular quando a vida começa, e aí sinceramente não vejo tanta diferença entre 14 dias ou 9 meses. Quem define que a vida começa aqui ou acolá é porque quer intervir antes. Ao contrário, os que se opoem à interrupção da vida a qualquer instante não o fazem por postularem que a mesma começa na concepção, mas simplesmente por se verem incapazes de dizer quando ela começa, o que me parece bem mais prudente. Sobraria entao o terceiro principio, dito fascista por muitos, mas talvez justificavel em alguns casos. A meu ver, porém, vai de encontro ao "direito a vida".

4) O que é o "direito a vida"?

Não sei, mas seja lá o que for, pertence ao sujeito e mais ninguém. O argumento de que as tais pesquisas tem o consentimento dos "doadores" não procede. Os "doadores" são o que em linguagem comum se chama "pais da criança" e é logico que esses não podem dispor sobre a vida da mesma. Neste sentido, é dificil que todo esse tema não evoque as "pesquisas" feitas com judeus em campos de concentração, a título de exemplo. Lógico que seria uma barbaridade estabelecer um paralelo nesse caso. Há muita gente nobre que defende pesquisa com CTE, e os motivos, não menos nobres. Ha uma diferença brutal entre as circunstancias. Mas vale lembrar que em ambos os casos se abre mão da prerrogativa de que vidas mais fortes não tem o direito de arbitrar sobre vidas mais fracas, seja porque o são de fato, seja porque desarmadas...

5) Qual o limiar da nossa compaixão?

Uma mulher abandonou um bebê recém-nascido na Lagoa da Pampulha e foi tratada como assasina por todos os jornais. Ninguém perguntou se o bebê era anencéfalo, se nasceu de estupro ou se se tratava de uma gravidez indesejada. Dois dias antes e a "assassina" seria "uma mulher cujas opções devem ser respeitadas". Posso parecer um ET mas honestamente não vejo tanta diferença entre um bebê intra ou extra útero. A tese de que o "embrião não é pessoa e nem pode ser amado" afronta um pouco o costume agora comum entre casais de "documentar a gestação". Se fosse possível detectar o dia da concepção, qual é o casal que não gostaria de uma foto do filho ainda zigoto?

6) Quem vai se beneficiar da Lei?

Confesso que fiquei decepcionado vendo o abismo existente entre o que a midia promete e o estado da arte em pesquisas com CTE em países, mesmo desenvolvidos, onde não há restrição. Pior, sao cientistas seríssimos, de curricula invejáveis, o que só agrava a situação. Isso sem falar na relação embriões estimados por caso vis a vis estoques atuais. De onde vai vir tanto embrião? Quem vai fornecer? Quanto vai custar?!! Concordo plenamente que, em matéria de Ciência, sempre vale a pena esperar. O que não impede um certo dissabor. Os doentes que queremos curar talvez só se beneficiem da lei se viverem 500 anos, e alguns poucos podem lucrar muito em menos de 5...

7) Porque não investir mais em pesquisa com células tronco adultas?

O Brasil já é referência em pesquisas deste tipo. A decisão do Supremo vai dividir esforcos e dispendio. Começamos atrasados e em assunto sem garantia de retorno científico num futuro próximo. E a gente bem sabe que no Brasil, não é que sobre dinheiro pra pesquisa....

8) O que nos sensibiliza mais?

Claro que comove ver os tantos doentes presentes na sessão do Supremo. Mas me pergunto se não me comoveria mais ver na mesma sessão o tal garoto declarado "célula inviável" e que não estaria lá se tivesse sido "doado à pesquisa". Sinceramente não sei responder. Mas sei que o primeiro sentimento se baseia em uma esperança, o segundo é absolutamente real.

9) O que o Supremo decidiu?

Inúmeras coisas, mas, bem ou mal, avançou em pelo menos 14 dias o limite de respeito a vida. Paises avancados já o avancaram mais longe antes; e paises mais avançados talvez o avancem ainda mais no futuro. O que nos cabe a cada um de nos é julgar é se isto realmente constitui um avanço.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

A leitura, a matemática, as ciências, e a filosofia

Nos últimos anos a OECD (Organization for Economic Co-operation and Development) vem desenvolvendo o excelente Programme for International Student Assessment (PISA). A idéia do projeto é avaliar e comparar o desempenho de alunos de 15 anos de idade de diversos países em leitura, matemática e ciências (veja aqui).

O resultado é assustador. No teste de 2000 foi avaliada a capacidade de leitura e compreensão de textos dos alunos em 32 países. Advinhem a posição do Brasil. Pois é. Último colocado disparado (veja na página 4 desse relatório).

Em 2003 foi a vez dos testes de matemática. O Brasil foi 38º de 40. Chegou na frente apenas da Tunísia e Indonésia (veja a página 11 desse relatório).

Em 2006, ciências. Dessa vez 52º de um total de 57 (veja a página 51 desse relatório). Dessa vez fomos melhor do que Indonésia, Tunísia, Azerbaijão, Qatar, e “Kyrgystan” (como se escreve isso em português?).

Como pode-se ver, os resultados demonstram que o ensino no Brasil é pífio. O problema não é apenas estar mal nos rankings, mas estar muito, mas muito atrás de países onde o ensino é apenas razoável.

Pois então. Diante desse quadro calamitoso, o presidente do Brasil em exercício, José Alencar, sanciona hoje o projeto de lei que torna obrigatória a inclusão do ensino de filosofia e sociologia nas escolas do ensino médio (veja aqui). É demais. Ao invés de concentrar esforços no que realmente importa (português, matemática e ciências), o Brasil vai investir tempo e dinheiro em filosofia e sociologia.

Não quero desmerecer a filosofia nem a sociologia que são campos do conhecimento fundamentais, mas como esperar que alunos que mal sabem ler e contar aprendam essas matérias?

O meu medo é que o ensino de filosofia e sociologia se torne apenas mais um instrumento de doutrinação partidária, como já acontece com geografia e história.