sexta-feira, 13 de junho de 2008

Estimulantes químicos de uso ilegal

Hoje vou comentar a matéria publicada no congressoemfoco.com pelo Osvaldo Martins Rizzo, engenheiro e ex-conselheiro do BNDES. Na sua coluna do dia 8 de junho ele resolve explicar a quebra do banco de investimentos americano Bear Sterns (veja aqui). O problema é que ele não entendeu patavinas do que aconteceu e ainda por cima usa aqueles velhos chavões cansados de quem tem raiva do mercado financeiro.

Vamos lá. Ele começa dizendo:

“Enroscado em uma teia de papéis de derivativos de crédito sem lastro, a instituição passou a perder a confiança dos investidores e, em menos de 72 horas, quebrou.”

Falso. A crise começou em agosto de 2007 e culminou com a venda do Bear Sterns para o JPMorgan em maio de 2008, portanto o banco não quebrou em menos de 72 horas. Quanto aos derivativos de crédito que causaram a queda do banco, os famosos asset-backed securities, como o próprio nome diz eram todos lastreados. Os títulos do Bear Sterns davam direito ao banco receber o pagamento das hipotecas à medida que fossem feitos. Se alguém atrasasse o pagamento a sua casa ía a leilão para cobrir o prejuízo. Ou seja, os imóveis garantiam o rendimento dos titulos (os títulos eram lastreados). O grande problema é que as pessoas começaram a calotar ao mesmo tempo em que os imóveis caíam de preço, ou seja, o banco teve grandes prejuízos com seus investimentos.

Depois:

Muitos aplicadores que, até às vésperas da bancarrota, possuíam cotas dos fundos mútuos administrados pelo banco, enxergando uma oportunidade de auferir lucros, as venderam e passaram a apostar contra o Bear Stearns acelerando a sua quebra.”

Erro primário. O autor confunde cotista de fundo mútuo com acionista. O cotista de um fundo mútuo dá o seu dinheiro para o Bear Sterns administrar. O acionista aposta que o banco vai ser lucrativo. São coisas totalmente diferentes.

Ele continua:

“Como chacais famintos, esses ex-parceiros decidiram que a caça estava ferida e mataram-na, temporariamente saciando sua sede de sangue.”

É aquela velha analogia: o capitalista é o lobo mau, o trabalhador o cordeiro indefeso, etc. Haja paciência...

O autor segue despejando ignorância e preconceito:

“Nesse imediatista ambiente de negócios movido pela especulação predatória, e também por vários estimulantes químicos de uso ilegal, não se valoriza a produção; o trabalho árduo e a perseverança em se alcançar metas gratificantes de prazos mais longos.”

Aqui o autor insinua que quem trabalha no mercado financeiro usa drogas (“estimulantes químicos de uso ilegal”), o que é mais um daqueles rótulos burros, preconceituosos e ultrapassados. Depois o autor insinua que o capitalismo no modelo americano não valoriza a produção, o trabalho árduo e a perseverança. Mas não são os EUA o país mais rico e desenvolvido do mundo? Como chegariam lá se não com perseverança e trabalho árduo? E como ser rico sem produção?

E olhem essa:

“Entorpecidos pelos efeitos alucinógenos causados pela insana ganância, os financistas estão esquecendo que terras, casas, prédios, máquinas, etc são os verdadeiros e únicos ativos. Os papéis (bônus; ações; títulos; etc) não são bens, mas apenas indicam quem é o proprietário deles num determinado momento histórico. O valor do título de propriedade como objeto é ínfimo perante o bem material correspondente.

Dããããã. Será que quando alguém compra R$ 10 milhões em ações da Petrobras acha realmente que está comprando um pedaço de papel? Ou que quem compra um apartamento se confunde e acha que na verdade está comprando apenas a escritura cheia de carimbos e assinaturas? Fala sério seu Osvaldo!

Espero que o Sr. Osvaldo não tenha usado “estimulantes químicos de uso ilegal” para escrever o artigo. Mas não sei não...

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