Uns dias atrás li a colula da Míriam Leitão sobre a desigualdade social na China (veja aqui) e resolvi comentar o assunto. O meu objetivo não é esgotar a questão, mas somente levantar alguns pontos nos quais as pessoas raramente pensam.
Para a maior parte das pessoas a desigualdade social é um dos principais problemas do século XXI. É comum, por exemplo, se tratar a desigualdade como um mal em si próprio. É o ideário esquerdista de que todos devem ser iguais. Nesse caso, um presidente de empresa ganhar muito mais do que um operário seria injusto não importando as qualificações de um e de outro.
Na verdade, pouco se pensa nas causas e conseqüências da desigualdade. O problema da desigualdade se dá quando as oportunidades são diferentes. Quando um tem acesso a educação e o outro não, então a distribuição da renda será essencialmente injusta, uma vez que não reflete a diferença de talento ou esforço. É por isso que a ênfase deve ser sempre nos direitos iguais. Direitos iguais significam acesso a oportunidades, senão iguais, ao menos semelhantes.
Nos Estados Unidos, por exemplo, as oportunidades são essencialmente semelhantes. Como mostram os economistas da Universidade de Chicago Gary Becker (vencedor do prêmio Nobel de economia) e Kevin Murphy (vencedor da medalha John Bates Clark), a desigualdade crescente nos Estados Unidos é reflexo dos crescentes retornos que a educação oferece (veja aqui). Assim, uma pessoa que tem diploma universitário ganha cada vez mais que uma pessoa que pára de estudar após completar o segundo grau. Como os economistas mostram, cada vez mais estudantes acabam optando por ir à universidade. Para o país o resultado não poderia ser melhor: o capital humano cresce, a força de trabalho se torna mais produtiva, e o país fica mais rico.
Já na China a desigualdade tem uma história diferente. O crescimento econômico estimulado pelo comércio internacional aumentou muito a desigualdade naquele país, mas também tirou milhões de pessoas da pobreza absoluta. Sem dúvida, o crescimento acelerado melhorou a vida dos chineses pobres. Mas ao contrário do caso americano, na China as oportunidades não são iguais. Lá a burocracia do partido comunista decide quem tem acesso as regiões desenvolvidas que propiciam uma vida melhor. Lá a burocracia estatal decide quem vai viver na pobreza do campo e quem vai ter oportunidades nas grandes cidades para onde o governo direciona os investimentos.
Portanto, a briga não deve ser contra a desigualdade na renda, mas sim contra a desigualdade de oportunidades. Todos sabem que os seres humanos têm diferentes aptidões: uns são mais competentes, outros mais trabalhadores, outros são simplesmente vagabundos. Quando a desigualdade reflete os diferentes talentos e contribuições de cada um, então ela é benefica. Por exemplo, quando o Kaká ganha milhões de dólares por ano nao há nada de injusto nisso: ele está entre os melhores jogadores do mundo. Todos têm oportunidade de mostrar o seu talento nos campos de futebol, mas apenas poucos têm a qualidade técnica do Kaká. Se alguém acha que o salário dele é alto demais, deve então se dedicar a ser jogador de futebol e auferir os lucros que tal posição proporciona. Mas só quem tentar vai saber da real dificuldade. Ficar na frente da televisão exigindo igualdade é fácil.
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